*Por Alex Reinecke de Alverga
Car@s,
Escrevo aqui para protestar, repudiar e tornar pública a minha indignação frente às denúncias de agressão, violência, humilhação e desrespeito aos direitos humanos que foram noticiadas recentemente no interior da clínica Santa Maria. Palavras estas que foram pronunciadas durante o Ato Público em frente a Clínica Santa Maria, quinta-feira passada e que acredito serem importantes de por em debate aqui.
Sabemos que este não é o primeiro ato criminoso a ser denunciado, nem será o último. Quantos crimes ainda precisam acontecer? Quantos crimes ainda serão silenciados?
Precisamos compartilhar o entendimento que a Reforma Psiquiátrica não avança enquanto tivermos em funcionamento instituições como esta que no lugar de oferecer tratamento e cuidados necessários para as pessoas em situação de sofrimento psíquico, cumprem o mandato social de silenciar e excluir centenas de pessoas do convívio social, de punir e agredir pessoas justamente no momento que mais necessitam de cuidados.
A Reforma Psiquiátrica vem avançando no Brasil, timidamente, mas vem. Desde a aprovação da Lei Federal 10.216 de 2001, o Estado brasileiro se responsabilizou pela efetivação da Reforma Psiquiátrica.
No entanto, é importante que se diga que a nossa legislação é insuficiente, que as forças conservadoras e reacionárias do nosso estado, que ainda encontram-se no executivo e no legislativo (seja pessoalmente ou pelo DNA tanto biológico, quanto ideológico-partidário), votaram todos contra a aprovação da Lei cujo projeto era do ano de 1989.
Ainda, é preciso dizer que o projeto original previa a gradativa extinção dos hospitais psiquiátricos e, esta proposta, que era a espinha dorsal do projeto, foi recusada dentro do consenso que foi possível entre as forças progressistas e conservadoras nos 12 anos de tramitação no Congresso Nacional.
Assim, a atual legislação preconiza uma reorientação do modelo assistencial e busca garantir a proteção dos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental.
Esta Lei, que não é a ideal (mas é Lei!), está sendo sistematicamente descumprida. As denúncias de maus tratos são provas disto. O não funcionamento da comissão revisora das internações involuntárias, previstas também na Lei, igualmente.
É importante também compartilhar aqui o entendimento que a Reforma Psiquiátrica só avança com o desmonte dos hospitais psiquiátricos e com a devida realocação dos recursos humanos e financeiros para a construção de novos serviços inteiramente substitutivos ao manicômio, como os CAPS III.
Natal só agora possui este serviço estruturado para reforçar a rede de atenção psicossocial que está sendo desenhada, como inúmeras dificuldades há cerca de duas décadas. Mas, a existência de financiamento público para leitos da clínica Santa Maria e outros hospitais psiquiátricos, impedem e dificultam a construção de uma rede de serviços mais adequados e que ofereçam tratamentos e cuidados mais dignos.
A noção de que o descredenciamento gera falta de assistência, que o movimento da Luta Antimanicomial é contra internações que por ventura e, em um último caso possam ocorrer, como está previsto nos CAPS III e deveria ocorrer também em Hospitais Gerais, tais argumentos são falaciosos e oportunistas, pois a Reforma Psiquiátrica é uma luta também pelo aumento do financiamento e expansão dos serviços, mas serviços não manicomiais. Neste sentido, é que devemos encampar também o apoio à aprovação da Emenda Constitucional 29 para assegurar o financiamento mínimo das ações de saúde.
Portanto, acredito que a sociedade civil organizada, trabalhadores, estudantes, usuários e população em geral devem se posicionar frente este momento decisivo. A conjuntura da saúde e especificamente da saúde mental é complexa, mas em momentos como este, em que notícias da barbárie manicomial nos chegam até pela grande mídia, torna-se facilmente polarizável: afinal, de que lado estamos?
Exigindo o descredenciamento dos leitos do SUS da clínica Santa Maria e com isto estabelecendo que estes recursos sejam repassados para a abertura de serviços que realmente cuidem de seus usuários?
Ou apenas nos omitindo e assinando em baixo de uma história de alianças criminosas, interesses espúrios e atentados à dignidade humana?
Chega de uma história perversa marcada pela aliança entre as forças políticas conservadoras e a “indústria da loucura”. Não podemos permitir que crimes contra a humanidade continuem acontecendo com incentivo público.
Pelo descredenciamento dos leitos dos SUS da clínica Santa Maria já!!!
Saudações Antimanicomiais!
Parabéns, Alex! Temos que nos posicionar de forma contundente contra toda essa tradição de injustiças e violações aos direitos humanos dos portadores de transtorno mental. Não aos manicômios! Sim ao nosso direito a vida digna, com justiça e liberdade!
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