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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dignidade do usuário*

*Por Mário Alberto Dantas

Há tempos venho matutando sobre minha participação na Luta Antimanicomial. Como devo me envolver nos movimentos, sem perder o senso crítico, a autonomia e a preocupação com minha integridade moral. Em resumo, minha dignidade.
A Abrasme me proporciona intenso envolvimento democrático, e como caráter da democracia, há a pluralidade de escolhas, tendâncias e preferências.
Lembro que em 2009, quando da fundação da Abrasme-RN, fui convidado a fazer parte da sua diretoria. Não aceitei, nao por temer desafios. Sim, por crer ser injusto naquele momento desmerecer outros usuários, que havia tempos participavam do movimento.
Este ano, talvez por falta de maior presença de usuários na Abrasme, meu nome foi levantado. E bom que se diga que relutei novamente em participar. Desta vez, sob alegação de que estaria ausente de Natal a maior parte do tempo.
Lembro bem de cada participante daquela reunião de formação da única chapa da Abrasme-RN.
Sinto-me honrado em ser membro dessa diretoria.
Estou acostumado a consensos e discordâncias. Tenho orgulho de minha história nos movimentos sindicais e politico-partidários. História ate hoje envolta numa espécie de conspiração de silêncio. Em razão do passado de intensa e sistemática perseguição política contra a minha pessoa, por parte da diretoria do Banco do Nordeste.
Vale dizer, nem o Governo Lula foi capaz de admitir tais perseguições. Os motivos são óbvios.
Também certa entidade que se diz defender os interesses do funcionalismo do BNB, a AFBNB, em seu sitio www.afbnb.com.br, tem extenso histórico dessas perseguições no BNB. Fiz parte ativa da diretoria dessa entidade, na era FHC.
Nenhuma vírgula ao meu respeito.
Voltando à Abrasme, fico à vontade para reafirmar que não me sinto discriminado. Apenas, percebo no ar que não agrado a membros que não apreciam meu estilo agressivo e combativo. Respeito a todas e todos os membros da Abrasme-RN. Espero críticas, que serão bem vindas. Mas terão respostas.
Os usuários têm que receber críticas, ser cobrados e estimulados a sair da letargia em que vivem, e do circulo vicioso que se tornam as vezes os serviços substitutivos.
Repito. Há quem nao venha a gostar desta minha mensagem. Normal. Peço desculpas, mas peço passagem.

Saudações Antimanicomiais,

Mário Alberto Dantas

3 comentários:

  1. Concordo! Alguns serviços muitas vezes substitui manicômio apenas na palavra. E o que deveria se dar através da inclusão social acaba "institucionalizando" deixando o usuário ainda dependente de um serviço, ou de uma equipe, sem a mínima autonomia...
    Com todo respeito,
    Muita atenção a esta questão!
    Boa Noite.

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  2. Mario Alberto Dantas5 de janeiro de 2011 às 21:10

    Boa noite, cara Renata Dantas.

    Parabens por se identificar! Sabemos as consequencias destas atitudes ousadas. Penso em passar a me tratar em um CAPS, nao por mera provocacao. Creio que seria minha decisao mais coerente com o que defendo. Faz mais de tres meses que nao faco uso regular do Abilify, para esquizofrenia. Falta na Unicat, e o medicamento disponivel para mim restou o Seroquel. Nao me faz bem. Prefiro a lucidez 'a flor da pele, sentindo-me mais humano. Tenho sentimentos e desejos. Nao quero ficar dopado, a escamotear todos os meus concretos problemas.
    Reafirmo de que usuario nao e' coitado, e sim um esquecido pela maquina de gerar lucros. O capitalismo.
    Quanto ao "surto psicotico", nada mais e' do que a explosao de violencias sofridas e reprimidas.
    Dizia Gramsci que era pessimista no pensamento, e otimista na acao!
    Sejamos entao! Forte abraco!

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  3. Quero falar sobre o desencanto com o que existe. Chegamos ao cumulo da coisificação; as coisas, os bens materiais, o dinheiro e o seu poder, valem mais do que nos, os seres humanos. Isto e’ lugar-comum.
    Por mais que alguém se sinta excluído do que afirmo, reafirmo que o desencanto e’ gerenalizado. Logico, a maioria nem o percebe, afoita e imersa na busca incessante para o que lhe de um sentido concreto em sua vida.
    Daí’ que de certas pessoas das poucas que observo mudem tanto de crenças, tanto políticas e religiosas. Esta ultima crença faz com que pessoas sigam determinado líder espiritual, guru, pastor evangélico, padre, seja o que for; e que sigam-nos aonde eles decidirem.
    Sabemos que o tempo e’ curto para a imensa maioria da classe trabalhadora, dos que vivem da venda da forca de trabalho. Essa grande parcela de seres humanos não sabe o que e’ usufruir o lazer.
    Há’ toda uma industria lucrativa em cima disso. Basta parar pra pensar sobre o assunto.
    Sinto profundamente o desencanto. E tal sentimento de desencanto não me causa temor; alias, o meu temor vem da minha falta de temor. A ausência do sagrado faz qualquer um se tornar refém do imponderável. Minha condição de portador de esquizofrenia me complica ainda mais.
    Os portadores de transtorno mental somos como macacos de circo. Temos que provar aos espectadores de plantão que sabemos imitar os humanos; sabemos andar arrumados e asseados; sabemos ser cordiais; sabemos obedecer em silencio; sabemos ouvir piadas sobre nossa condição, e devolver sorrisos e gentilezas. Temos frases feitas para ocasiões que nos exigem ar de profundidade, sobre diversos assuntos. A diferença e’ que não há’ manicômios, ou cárceres privados, ou camisas de forca, ou medicamentos que substituem tudo isto, para os macacos.
    Por fim, cito Jose Saramago, em trecho de um dos mais belos poemas que já li.
    “Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
    como a água, a pedra e a raiz.”

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louco falou

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